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Realizar contratações de insumos e prestadores orientadas a resultados em saúde

A gestão de contratos orientada a resultados impacta positivamente nas metas administrativas e de saúde do território. Para garantir a efetividade das contratualizações, deve-se monitorar e avaliar contratos, propiciando responsabilização compartilhada e isenção por parte do Poder Público. Nos contratos de gestão, é importante pactuar com os recursos humanos de saúde o compromisso com entregas relacionadas aos resultados sanitários e de produtividade no território, engajando equipes. Já as contratações de insumos e serviços devem ser realizadas, preferencialmente, por pregão eletrônico.

Ações na prática e seus indicadores

Com a transição da burocracia de um perfil provedor/operacionalizador para um perfil regulador, há um deslocamento significativo nas competências e habilidades necessárias para desempenhar as novas funções. Contudo, essas novas habilidades ainda precisam ser construídas e consolidadas nas secretarias. O desenvolvimento de lideranças – contratadas ou desenvolvidas internamente – que sejam capazes de elaborar, monitorar, negociar e articular contratualizações é essencial. Segundo a literatura, a melhor forma de fazê-lo é por meio da formação estratégica de dirigentes públicos para o gerenciamento de projetos-chave, incluindo a saúde, de modo semelhante ao que se fez no Governo Federal, com a carreira de EPPGG, e em outros 10 estados e algumas prefeituras pelo país  (o que dialoga com a criação de Escolas de Governo e centros de formação).

Indicador: proporção de gestores diretos de contratos que tenham formação específica

Realizar oficinas de planejamento, com representação das unidades de saúde e lideranças do território, com vistas a se estabelecer os parâmetros necessários para cada área. Aqui entra o resultado da análise do perfil epidemiológico e demandas de saúde, para se relacionar às metas a serem atingidas (melhoria de condições de saúde e quantidade de atendimentos), com a definição de indicadores para acompanhá-las.

Indicador: planejamento realizado.

Definir de maneira clara e transparente as orientações que prestadores devem seguir na realização das atividades, tanto em melhoria dos indicadores epidemiológicos e de resultados assistenciais regionais quanto em produtividade. Importante preservar a humanização no atendimento, que pode ser subvalorizada em detrimento das metas. Incluir formas de avaliação por desfecho assistencial. Prever indicadores e metas de resolutividade das linhas de cuidado.

Indicador: indicadores e metas por território definidos.

Independente do tipo de vínculo da força de trabalho da área de saúde, essas definições possibilitam um melhor gerenciamento e comprometimento dos recursos humanos com os resultados pactuados, especialmente no caso dos profissionais contratados por Organizações Sociais. O ideal é estabelecer os parâmetros comuns a serem seguidos por todos os contratos de gestão, de modo a padronizar as relações com a SMS. Deve-se utilizar critérios de remuneração variável atrelada às metas e parâmetros de cada área. É importante prever a realização de processo seletivo amplo, pelas Organizações Sociais, para o recrutamento de pessoal.

Indicador: estrutura de pessoal definida.

Com a definição das ações a serem realizadas, resultados a serem alcançados e estrutura de pessoal, passa-se à elaboração do edital. Geralmente o corpo do edital é elaborado pelo Órgão Jurídico da Prefeitura, cabendo à SMS a elaboração dos anexos do plano de trabalho dos contratos de gestão e licitações em geral.

Indicador: edital e planos de trabalho elaborados.

Esta medida propicia o comprometimento dos integrantes de cada área com a política pública definida pela Secretaria de Saúde, levando-se em conta um processo de desconcentração administrativa (vulgo, descentralização), passando a se ter áreas com autonomia orçamentária para realizar a supervisão dos contratos de gestão e fiscalização de contratos administrativos oriundos de licitações.

Indicador: acordos de resultados e contratos de gestão assinados.

Possibilita a responsabilização de todas as estruturas da Secretaria de Saúde, não ficando concentrada no nível central. Gera comprometimento dos gestores locais com a obtenção de melhores resultados e qualidade nas compras e contratações. A realização das licitações e pregões e processos de contratação deve ser centralizada na estrutura da SMS, cabendo às unidades descentralizadas (desconcentradas) a adesão às licitações e atas de registro de preços na parte proporcional que lhe cabe, assumindo a responsabilidade pela aquisição.

Indicador: criação de unidades orçamentárias desconcentradas no orçamento da SMS.

A criação de uma estrutura interna na SMS, para concentrar a coordenação das atividades de monitoramento e avaliação dos contratos de gestão visa a obter maior controle sobre as atividades e resultados. Deve-se definir sistemática de acompanhamento das atividades desenvolvidas e monitoramento dos indicadores pactuados, além da fiscalização da qualidade do serviço, como meio para avaliar as ações e redirecioná-las, quando necessário. Prever comissões técnicas multiprofissionais de avaliação para cada contrato de gestão. No caso dos contratos administrativos, deve ser formalizada a indicação de fiscais de cada contrato. Importante definir uma ferramenta de informática própria para monitoramento dos contratos de gestão, o que facilita o trabalho das comissões de avaliação e confere transparência ao modelo.

Indicador: estrutura implantada com sistemática de trabalho definida.

Todos os contratos da secretaria com organizações sociais e outros prestadores devem estar disponíveis num portal online, de forma desagregada e inteligível. Esta prática garante tanto maior competitividade quanto maior transparência do gasto público.  No nível das práticas de compra, deve-se realizar a comparação, sempre que possível, dos preços dos insumos a serem adquiridos com os bancos de preços públicos disponíveis, em especial o BPS – Banco de Preços em Saúde, gerido pelo Ministério da Saúde, que fornece a variação de preços de insumos e serviços por região.

Indicador: percentual de contratos, compras e aquisições publicadas de maneira inteligível na internet.

Quais problemas resolve

Passos para implementação da proposta

Identificar a situação epidemiológica do território e quantidades de serviços oferecidos;

1

Definir os padrões de serviços de saúde necessários (tipo, quantidade e qualidade) e metas de melhoria dos indicadores epidemiológicos;

2

Estabelecer contratualização intragovernamental (acordos de resultados - entre estruturas da própria prefeitura) e intersetorial (contratos de gestão - governo e terceiro setor), firmando pacto quanto aos serviços e metas a serem alcançadas, com a previsão de sistemática de avaliação;

3

Criar estrutura interna e equipe responsável pelo monitoramento dos contratos de gestão e acompanhamento dos resultados;

4

Realizar desconcentração orçamentária, para possibilitar que as unidades responsáveis por territórios tenham as ferramentas de gestão disponíveis para a realização das atividades, com responsabilização dos gestores locais;

5

Dividir licitações de insumos e serviços em lotes territoriais, possibilitando a adesão e gestão das unidades desconcentradas, preferencialmente por meio de pregão eletrônico;

6

Definir funções necessárias de cada cargo e critérios para carreiras, composição de remuneração e suas métricas (no caso de estatutários faz-se por projeto de lei) (no caso de parcerias e terceirizações, pode constar em contrato);

7

Implantar sistemática de monitoramento e avaliação dos contratos de gestão, preferencialmente utilizando ferramenta de informática.

8

Desafios políticos e administrativos

Uma primeira resistência pode surgir tanto das áreas centrais da prefeitura/secretaria, quanto das unidades a serem descentralizadas, especialmente pela necessidade de avaliar os colegas e por passarem a ser avaliados. Também pode ser um desafio conseguir dados precisos além dos disponíveis nos sistemas DATASUS.

Outro desafio administrativo nasce da implantação da desconcentração orçamentária na LOA do ano seguinte, que possibilita a transformação dos territórios em unidades orçamentárias próprias, propiciando a responsabilização dos agentes e maior capacidade de gestão das suas compras e contratações. Geralmente, as licitações seguem realizadas no nível central da Secretaria, mas podem ser feitas em lotes específicos para cada unidade orçamentária. Pode haver resistência dos servidores do nível central, pela perspectiva de perda de poder sobre os fornecedores e, também, dos agentes do território, preocupados com a possibilidade de responsabilização.

Quanto aos recursos humanos, haverá desafios políticos e administrativos. Os políticos surgem da resistência corporativa dos servidores públicos e funcionários envolvidos, que defendem salários iguais, independente do esforço ou êxito de cada equipe ou mesmo indivíduo, e acreditam que todo serviço público deva ser realizado por funcionários estatutários. Esses agentes podem procurar a Câmara de Vereadores na tentativa de barrar as novas medidas. Administrativamente, há o desafio de aprovar projeto de lei que reorganize funções, carreiras e estrutura de remuneração, com previsão de parcela variável por êxito, com critérios claros, aplicáveis aos servidores. No caso dos funcionários CLT das parcerias com Organizações Sociais ou contratos terceirizados, pode-se prever as condições no contrato estabelecido, mas há possibilidade de mobilização de categorias insatisfeitas, que preferiam estar sob o manto protetor da estabilidade do servidor público.

Estudo de caso

Um novo modelo de contratação: a experiência do Rio de Janeiro

O Estado de São Paulo foi precursor no estabelecimento de parcerias na área da saúde, promovendo a formalização de contratos de gestão com Organizações Sociais para a operação de cerca de 60 hospitais ainda em 1999. Depois disso, vários estados e municípios, notadamente as capitais, passaram a aprovar seus modelos de Organizações Sociais por meio de Leis Municipais.

O caso da cidade do Rio de Janeiro é importante pela dimensão da implantação do modelo, que compreendeu toda a Atenção Primária do Município, além de novas unidades hospitalares, UPAs e maternidades, durante os anos de 2009 a 2016. A SMS cumpriu todos os passos, desde o estudo epidemiológico do território, para subsidiar o planejamento das ações e elaborar os planos de trabalho que vieram a fazer parte dos contratos de gestão. Dividiu-se a cidade em 10 áreas programáticas (APs), conferiu às mesmas autonomia orçamentária e formalizou os contratos de gestão sob a supervisão direta de cada área.

Criou-se na estrutura interna da SMS uma área de monitoramento e avaliação, que coordenava as comissões técnicas multiprofissionais, responsáveis por monitorar e avaliar os resultados e a prestação de contas de cada contrato de gestão com Organizações Sociais, utilizando-se de ferramenta de informática desenvolvida para esta atividade.

Curitiba

Uma gestão de contratos orientada a valor proporciona aumento da resolutividade da Atenção Básica, ganho de capacidade estatal e repercute na melhora da situação de saúde da população como um todo.

Abaixo, descrevemos os mecanismos através dos quais essa proposta impacta positivamente o sistema de saúde, resolvendo os problemas especificados acima: 

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AÇÃO
Mecanismo/produto
Resultado
Impacto
• Construir capacidade regulatória na burocracia municipal de saúde
• Secretaria consegue contratar ou desenvolver talentos com um perfil de habilidades e competências para um bom gerenciamento de contratualizações
• Indicadores, métodos de monitoramento e processos de negociação e articulação são melhor estruturados e cumpridos
• Aumento da resolutividade
• Melhora da situação de saúde da população
• Ganho de capacidade estatal
• Planejar oferta de serviços e ações
• Definir resultados a serem alcançados pelo território
• Gestão, equipes de ponta e outros atores pactuam conjuntamente os serviços a serem ofertados em cada território, com base em um diagnóstico situacional e definem as metas a serem alcançadas
• Corresponsabilização de atores envolvidos
• Pactuação de metas realistas e customizadas de acordo com cada área
• Maior engajamento das equipes de ponta
• Melhora da situação de saúde da população
• Aumento da resolutividade
• Definir estrutura de cargos, carreiras e remuneração
• Elaborar edital e plano de trabalho
• Gestão consegue dimensionar o número de contratações necessárias, o valor total a investir e as habilidades que cada profissional deve ter
• Gestão consegue traçar mecanismos de fixação de RH
• Melhor retenção de profissionais
• Mais liberdade para aumentar o número de contratações na rede
• Melhora da situação de saúde da população
• Aumento da resolutividade
• Ampliação de acesso
• Contratualizar resultados entre o órgão central e cada território
• Definir alçadas de decisão sobre execução orçamentária
• Gestão central e territórios oficializam as metas e resultados a serem alcançados, criando corresponsabilização
• Cada estrutura setorial da SMS é responsabilizada pela boa execução orçamentária e planejamento financeiro das ações de sua competência
• Equipes de ponta comprometidas e engajadas na busca pelos resultados contratualizados
• Equipes de alta e média gestão usam fatia de orçamento que executam de modo mais eficiente e responsável
• Aumento da resolutividade
• Aumento da eficiência de uso dos recursos financeiros
• Monitorar e acompanhar serviços
• Gestão visualiza onde os contratos estão ou não sendo cumpridos a contento e pode lançar mão de mecanismos de controle
• Prestadores responsabilizados pelos serviços
• Aprendizado sistemático a partir dos dados
• Aumento da resolutividade
• Garantir transparência em compras e contratação de serviços
• Gestão parametriza valores de acordo com um banco de preços, reduzindo chance de superfaturamento e outras irregularidades
• Gestão torna públicas todas as informações de suas compras e contratações
• Uso racional de recursos financeiros
• Aumento de concorrência entre fornecedores
• Maior acesso da sociedade aos dados de uso de dinheiro público na contratação de serviços
• Aumento da eficiência de uso dos recursos financeiros
• Redução de uso clientelista de recursos públicos