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Tornar a Atenção Básica mais resolutiva

A Atenção Básica deveria ser capaz de resolver cerca de 80% dos problemas de saúde da população.
Mas esta não é a realidade brasileira hoje. Tornar a Atenção Básica mais resolutiva implica em garantir infraestrutura adequada para que o aumento da cobertura venha associado à melhoria da qualidade dos serviços, impactando positivamente, tanto na saúde da população e na redução de desigualdades, como no aumento da eficiência e satisfação dos usuários.

Ações na prática e seus indicadores

Cada unidade deve ter a população sob sua responsabilidade sanitária bem definida em termos quantitativos e de suas necessidades em saúde. A partir disso, é possível reorganizar sua estrutura física, recursos humanos, agendas, processos de trabalho e portas de entrada. Hoje, no Brasil, essa definição é feita por territórios. Mas existem outras alternativas, como lista de pacientes por equipe, que podem ser implementadas para corresponsabilizar as equipes pelo cuidado de sua população, evitando que usuários usem serviços de emergência de modo desnecessário.

Garantir resolutividade de serviços de Atenção Básica passa por traçar estratégias, processos e metas para acolher e dar respostas às demandas de saúde que os usuários apresentam no primeiro contato com a UBS. Ofertar consultas e procedimentos ou garantir encaminhamento para outros serviços (conforme gravidade de cada caso) no mesmo dia é essencial para reduzir tempo de espera e eliminar filas na Atenção Básica.

indicador: proporção de unidades sem fila de espera para atendimento e que cumprem a meta de responder às demandas dos usuários no mesmo dia.

Implementar o agendamento de consultas de modo não presencial e incorporar consultas remotas via telessaúde (por telefone, vídeo, aplicativos, etc.) são formas de mitigar barreiras organizacionais e ampliar o acesso ao SUS. Os gestores municipais devem garantir que as Unidades tenham os equipamentos necessários para essa implementação.

Indicador: proporção de UBS com ferramentas de agendamento remoto e consultas não-presenciais implantadas + padronização de acesso no município.

Para ser mais resolutiva, a Atenção Básica deve dispor de equipamentos (e profissionais treinados) que permitam o correto atendimento da população sob sua responsabilidade sanitária sem a necessidade de encaminhá-los para outros níveis de atenção. Para isso, pode ser necessários incorporar tecnologias como eletrocardiogramas, espero manômetro e materiais para suturas, voltadas para garantir a prestação do que está previsto na carteira de serviços. A alocação adequada de tecnologias de cuidado é fundamental para o aumento da resolutividade. A gestão municipal deve partir de um diagnóstico de necessidades e demandas em saúde para definir a carteira de serviços e implementar essa medida nas Unidades.

indicador: proporção de UBS que dispõem de equipamentos e profissionais para executar a carteira de serviços em sua plenitude (vide proposta 7).

A capacidade técnica das equipes de Atenção Básica pode ser ampliada com apoio técnico-assistencial de especialistas, agregando competência assistencial para o manejo de casos, e diminuindo encaminhamentos desnecessários. O apoio se vale de várias tecnologias de compartilhamento do cuidado, como discussões de caso, transferência de conhecimentos, consultas compartilhadas ou individuais, etc.

O apoio às equipes pode ser feito em diferentes formatos, como:

Apoio direto: via NASF-AB – os Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica são equipes multidisciplinares compostas por diferentes especialidades (médicos especialistas, educadores físicos, nutricionistas, fisioterapeutas, etc.). Os membros dessa equipe trabalham presencialmente em Unidades Básicas, lançando mão das diferentes tecnologias de compartilhamento de cuidado mencionadas acima.

Apoio remoto: via ferramentas de Telessaúde – A telessaúde é uma forma de colocar a AB em contato mais próximo com a Rede, prescindindo de deslocamentos e de reuniões presenciais. Os gestores deverão garantir infraestrutura e tempo na agenda para que os profissionais possam utilizar essas ferramentas.

Apoio em rede: via Redes de serviços nas comunidades/territórios – Conectar a AB aos serviços de Saúde Mental, Urgência e Emergência (ou outros que sejam importantes para a população adscrita) favorece a resolutividade. Os apoiadores institucionais são profissionais responsáveis por essa interlocução entre serviços, contribuindo para a consolidação de uma rede efetiva.

Indicador: proporção de equipes apoiadas

Padronizar certos tipos de condutas clínicas baseadas na melhor evidência disponível não é apenas uma forma de garantir a oferta do melhor cuidado possível aos usuários da Atenção Básica, mas também um mecanismo de garantia de equidade. A AB deve contar com a implementação de protocolos para as condições comuns em seu escopo de atuação, em consonância com a sua carteira de serviços. É imprescindível garantir a implementação efetiva dos protocolos em todas as unidades, o que requer programas de treinamento específicos para essa finalidade.

indicador: proporção de unidades com protocolos implementados.

A Rede de Atenção à Saúde não é um aglomerado de equipamentos, mas sim um modo organizado e colaborativo que promove corresponsabilização, comunicação e definição clara de obrigações entre serviços de saúde da AB e uma rede especializada de suporte. As doenças crônicas desafiam a estrutura fragmentada do sistema de saúde e é essencial que a rede opere de maneira adequada para garantir resolutividade e prevenção de mortalidade evitável. Para isso, é preciso garantir espaços de gestão que envolvam atores de diferentes serviços – com divisão clara de responsabilidade e fluxos -, e que se avalie desempenho das linhas de cuidado.

Indicador: definição de indicadores específicos depende da linha de cuidado, mas algumas sugestões são a hospitalizações e atendimentos de urgência e emergência por agudização de condições crônicas, satisfação do usuário.

Quais problemas resolve

Passos para implementação da proposta

Diagnóstico atual da Rede de Atenção à Saúde (estrutura, organização e funcionamento);

1

Diagnóstico das demandas recaindo sobre serviços de urgência e emergência e atenção especializada;

2

Definição de prioridades de intervenção, baseada nos diagnósticos anteriores e na capacidade operacional do município;

3

Definição de uma equipe de planejamento e elaboração de um plano de ação;

4

Criação de espaços de diálogo e negociação sobre o plano de ação;

5

Comunicação e publicização do plano de ação para agentes legislativos, Conselhos de Saúde, trabalhadores, etc;

6

A depender da capacidade operacional, escolher unidades-modelo por área para posterior expansão de melhorias para o restante das unidades;

7

Realização de reuniões periódicas de monitoramento do plano de ação;

8

Divulgação do status de andamento do plano de ação (para atores legislativos, Conselhos de Saúde, trabalhadores, etc.

9

Desafios políticos e administrativos

O município tem responsabilidade prevista em Constituição na execução da política de saúde e, ao mesmo tempo, a gestão municipal se depara com o estrangulamento fiscal e o subfinanciamento da saúde, o que gera um grau elevado de insegurança administrativa para a realização de seu trabalho, sobretudo na relação com órgãos de controle.

Ademais, o engajamento das equipes de ponta e da média gestão pode ser desafiador, uma vez que existe uma consolidação/enraizamento de algumas práticas, o que é um fator importante para definir resistência às inovações e às mudanças de processo de trabalho. Não menos importante, há a polarização política dentro dos espaços de gestão. Isso reforça o quanto é importante estabelecer espaços de diálogo e negociação com os atores da ponta e dos diferentes níveis de gestão, na tentativa de vencer possíveis resistências.

Estudo de caso

Fortalecimento da Atenção Básica em Curitiba

No período entre 2013 e 2016, a gestão municipal de Curitiba implementou uma série de mudanças na execução da política de saúde. O diagnóstico foi de que havia grande sobrecarga sobre os serviços de urgência e emergência (sobretudo UPAs), um longo tempo de espera para consultas especializadas e dificuldades de acesso às Unidades Básicas.

As soluções focaram no fortalecimento da Atenção Básica e consolidação da Rede de Atenção à Saúde, com ações em um número determinado de UBS, buscando produzir efeito-demonstração, que incluíram:

• Transformação das UBS de programas verticais para um modelo horizontal; 

• Mudança no agendamento com marcação de consultas no dia ou no máximo
em 48 horas;

• Implementação de carteira de serviços; 

• Coordenação do cuidado: interlocução com outros níveis de atenção do sistema de saúde;

• Monitoramento de resultados (indicadores de avaliação de performance e qualidade);

• Ampliação do número de unidades de APS organizadas no modelo saúde da família;

• Recomposição das equipes dos núcleos de apoio ao saúde da família (Nasf);

• Extensão do horário de funcionamento de parte dos serviços até as 22h;

• Definição de novos padrões de ambiência para as unidades de saúde;

• Promoção de oficinas e seminários para discutir as novas orientações de funcionamento.

O resultado foi o aumento do número de consultas na Atenção Básica, redução do tempo de espera para diversas especialidades, redução da mortalidade materna e infantil e eliminação da transmissão vertical de HIV.

Curitiba

Uma Atenção Básica resolutiva e que coordena o cuidado poupa recursos, garante o direito à saúde e reduz mortalidades evitáveis

Abaixo, descrevemos os mecanismos através dos quais essa proposta impacta positivamente o sistema de saúde, resolvendo os problemas especificados acima: 

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AÇÃO
Mecanismo/produto
Resultado
Impacto
• Definir a população sob responsabilidade de cada Unidade
• Organizar o acesso presencial nas Unidades Básicas
• Implementar formas alternativas de acesso à AB
• Criam-se novos meios de utilização e acesso à Atenção Básica e organizam-se os mecanismos de porta de entrada na rede
• Mais usuários acessam a Atenção Básica
• Maior isonomia na efetivação desse acesso
• Eliminação de filas nas UBS
• Tornar a UBS facilmente acessível para a população
• Redução de desigualdades no acesso aos serviços de saúde
• Redução do risco de agudização de doenças
• Redução de mortalidade evitável
• Garantir equipamentos para efetivar a carteira de serviços
• Aumento do escopo de atividades realizadas na Atenção Básica
• Menos encaminhamento
• Decisões clínicas sendo tomadas de modo mais rápido e seguro
• Redução da sobrecarga sobre média e alta complexidade
• Melhoria dos resultados assistenciais e sanitários
• Implementação de apoio técnico-assistencial às equipes de Atenção Básica
• Aumento do suporte especializado para equipes de Atenção Básica, permitindo ampliação de escopo de práticas
• Menos encaminhamentos desnecessários
• Profissionais da Atenção Básica expandem seu conhecimento no manejo dos casos
• Redução da sobrecarga sobre média e alta complexidade
• Melhoria dos resultados assistenciais e sanitários
• Garantir a implementação efetiva de protocolos clínicos na AB
• Padronização de condutas clínicas com base em evidências científicas de qualidade
• Decisões clínicas sendo tomadas de modo mais seguro, no tempo adequado
• Isonomia na prestação de serviços no SUS
• Garantia de equidade no cuidado
• Melhoria dos resultados assistenciais e sanitários
• Redução de mortalidade evitável
• Efetivar linhas de cuidado, coordenadas pela AB
• Integração operacional e estratégica entre equipamentos da rede, com responsabilidades e fluxos bem definidos
• Usuários recebem cuidado integral em tempo oportuno
• Melhoria dos resultados assistenciais e sanitários
• Redução de mortalidade evitável